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Deus glorificado ne dependência do homem (2 de 2) Jonathan Edwads.

Terceiro, os redimidos têm todo o seu bem em Deus. O que temos é não apenas dele, e através dele, mas consiste nele; ele é todo nosso bem. O bem dos redimidos é ou objetivo ou inerente. Por bem objetivo, refiro-me ao objeto externo, por cuja posse e gozo são felizes. O seu bem inerente é aquela excelência ou prazer que está na própria alma. Com respeito a ambos, o redimido tem todo seu bem em Deus, ou, o que dá no mesmo, o próprio Deus é todo o seu bem.
1. Os redimidos têm todo o seu bem objetivo em Deus. Ele próprio é o grande bem ao qual, pela redenção, são levados a possuir e gozar. É o sumo bem, e a soma de todo bem que Cristo adquiriu. Deus é a herança dos santos; é a porção de suas almas. Ele é sua riqueza e tesouro, seu alimento, vida, lugar de habitação, seu ornamento e diadema, e sua honra e glória eternas. Não têm ninguém no céu, senão Deus. Ele é o bem maior que os redimidos recebem na morte, e com o qual devem ressurgir no fim do mundo. O Senhor Deus é a luz da Jerusalém celestial; e é o “rio da água da vida” que corre, e a “árvore que cresce, no meio do paraíso de Deus.” As gloriosas excelências e beleza de Deus serão as coisas que prenderão eternamente as mentes dos santos, e o seu amor será sua festa eterna. Os redimidos, com efeito, irão aproveitar outras coisas: os anjos, ou uns aos outros, mas o que aproveitarão nos anjos, ou uns nos outros, ou em qualquer outra coisa que lhes forneça deleite e felicidade, será o que de Deus possa ser visto nelas.
2. Os redimidos têm todo bem inerente em Deus. O bem inerente é duplo: é ou excelência ou prazer. Estes, os redimidos não apenas derivam de Deus, como causa, mas têm nele. Têm excelência e alegria espiritual por um tipo de participação em Deus. São feitos excelentes pela comunicação da excelência de Deus. Ele lhes concede sua própria beleza, i. e., sua formosa semelhança, em suas almas. São feitos participantes da natureza divina, ou da imagem moral de Deus (2 Pe 1. 4). São santos, pois participam na santidade de Deus (Hb 12. 10). Os santos são belos e benditos pela comunicação da santidade e júbilo de Deus, como a lua e os planetas brilham devido à luz solar. O santo tem alegria e prazer espiritual por um tipo de efusão de Deus na alma. Nestas coisas, os redimidos têm comunhão com Deus, pois são partícipes com ele e nele.
Os santos têm tanto excelência quanto benção espiritual pelo dom do Espírito Santo, e pela sua habitação interior neles. São não apenas causados pelo Espírito, mas estão nele como fonte. O Espírito, ao se tornar habitante, é um princípio vital na alma. Ele, agindo nela e com ela, torna-se uma fonte de verdadeira alegria e santidade, como uma fonte de água, pelo esforço e difusão de si mesmo. Jo 4. 14: “Aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna.” Compare com o cap. 7. 38, 39: “Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem.” A soma do que Cristo adquiriu para nós é essa fonte de águas referida na primeira dessas passagens, e aqueles rios de água viva mencionados na última. E a soma das bênçãos, que os redimidos devem receber no céu, é esse rio da água da vida que procede do trono de Deus e do Cordeiro (Ap 22. 1). O que, sem dúvidas, quer dizer o mesmo que aqueles rios de águas vivas explicados em Jo 7. 38, 39, que, alhures é chamado de “torrente das delícias de Deus.” Nisso consiste a plenitude do bem que os santos recebem de Cristo. É por participar do Espírito Santo que têm comunhão com Cristo em sua plenitude. Deus concedeu o Espírito, não por medida; e recebem de sua plenitude e graça sobre graça. Esta é a soma da herança dos santos; portanto esse pouco do Espírito Santo que os crentes têm neste mundo, é dito ser o penhor de sua herança, 2 Co 1. 22: “que também nos selou e nos deu o penhor do Espírito em nosso coração.” E no capítulo 5. 5: “Ora, foi o próprio Deus quem nos preparou para isto, outorgando-nos o penhor do Espírito.” E em Efésios 1. 13-14: “fostes selados com o Santo Espírito da promessa; 14 o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória.”
O Espírito Santo e as coisas excelentes são referidos na Escritura como iguais; é como se o Espírito de Deus, comunicado à alma, compreendesse todas as boas coisas: “Mateus 7:11 quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem?” Em Lucas está registrado, em 11. 13: “Quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?” Esta é a soma das bênçãos que Cristo assegurou pela sua morte, e o objeto das promessas do evangelho. Gl 3. 13-14: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro), 14 para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido.” o Espírito de Deus é a grande promessa do Pai. Lc 24. 49: “Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai; permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais revestidos de poder.” Portanto, ele é chamado de “Espírito da promessa”, em Ef 1. 33. Isto que foi prometido foi recebido por Cristo, e dado em suas mãos, tão logo terminou a obra da nossa redenção, para conceder a todos que havia redimido: “Exaltado, pois, à destra de Deus, tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vedes e ouvis.” Portanto, toda a santidade e felicidade do redimido está em Deus. Assenta-se na comunicação, habitação, e ação do Espírito de Deus. Santidade e felicidade são seus frutos, aqui e no porvir, porque Deus habita neles, e eles, em Deus.
Assim Deus nos deu o Redentor, e é por ele que nosso bem é adquirido. Portanto Deus é o Redentor e o preço; e também é a coisa adquirida. De modo que tudo que temos é de Deus, e através dele, e nele: “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” No grego, a tradução de para ele é a mesma de nele, (1 Co 8. 6).
II. Deus é glorificado na obra da redenção nisto: por haver tão grande e universal dependência do redimido nele.
1. O homem tem muito maior ocasião e obrigação de notar e reconhecer as perfeições e a autossuficiência de Deus. Quanto maior a dependência da criatura das perfeições de Deus, e a preocupação que tem com elas, maior a ocasião que tem de notá-las. Quanto mais alguém se preocupa com e depende do poder e da graça de Deus, maior a ocasião que tem de notar esse poder e graça.
Quanto maior e mais imediata a dependência que há da santidade divina, maior a ocasião de notá-la e reconhecê-la. Quanto maior e mais absoluta a dependência que temos das perfeições divinas, na medida em que pertencem às diversas pessoas da Trindade, maior a oportunidade que temos de observar e conceder a glória divina a cada uma delas. Aquilo com que mais nos importamos, certamente é mais notável no modo de nossa observação e reconhecimento; e este tipo de preocupação com algo, isto é, a dependência, tende especialmente a ordenar e obrigar a atenção e observação. Aquilo de que não dependemos tanto, facilmente negligenciamos; mas é raro que façamos outra coisa senão nos importarmos com aquilo de que mais dependemos. Devido à nossa grande dependência de Deus, e de suas perfeições, em muitos aspectos, ele e sua glória são mais diretamente postos em nossa visão, para onde quer que tornemos os olhos.
Temos maior oportunidade de reconhecer a autossuficiência de Deus quando toda nossa suficiência é completamente dele. Temos mais oportunidade de contemplá-lo como um Bem infinito, como fonte de todo bem. Tal dependência de Deus demonstra sua autossuficiência. Quanto mais a dependência da criatura está em Deus, mais aparece o esvaziamento dela de si mesma; e quanto maior o esvaziamento da criatura, maior será a plenitude do Ser que a preenche. O fato de termos tudo de Deus, mostra a plenitude de seu poder e graça. O termos tudo através dele, mostra a plenitude de seu mérito e dignidade; e o termos tudo nele, demonstra sua plenitude de beleza, amor e felicidade. E os redimidos, devido à grandeza de sua dependência de Deus, têm não apenas maior oportunidade, mas obrigação de contemplar e reconhecer a glória e plenitude de Deus. Como seríamos insensatos e ingratos, se não reconhecêssemos essa suficiência e gloria das quais dependemos absoluta, imediata e universalmente!
2. Assim, está demonstrado como é grande a glória de Deus comparada com a de suas criaturas. Sendo a criatura desse modo tão completa e universalmente dependente de Deus, evidencia-se que ela nada é, e que Deus é tudo. Daí, é evidente que Ele está infinitamente acima de nós; essa força, sabedoria e santidade de Deus, estão infinitamente acima das nossas. Conquanto a criatura apreenda Deus como grande e glorioso, contudo, se não for sensível à diferença que há entre ela e Deus, a ponto de ver que a glória de Deus é grandiosa, comparada com a sua própria, não estará disposta a dar a Deus a glória devida ao seu nome. Se a criatura se põe em qualquer aspecto no mesmo nível que Deus, ou se exalta para competir com ele, ainda que possa apreender que essa grande honra e profundo respeito pertencem a Deus a serem concedidos por aqueles que estão a grande distancia dele, não estará sensível de ser este seu dever. Quanto mais os homens se exaltam, menos estarão dispostos a exaltar a Deus. É certo o que Deus pretende ao dispor as coisas na redenção (se concedemos ser a Escritura a revelação da vontade de Deus): que Ele deva aparecer pleno, e o homem vazio em si mesmo, que Ele pareça como tudo, e o homem como nada. É o desígnio declarado de Deus que ninguém “se glorie na sua presença”, o que implica que é seu propósito promover sua própria glória em comparação aos outros. Quanto mais o homem “se gloria na presença de Deus”, menos glória é atribuída a Ele.
3. Por isto ter sido assim ordenado, que a criatura devesse ter dependência tão absoluta e universal de Deus, é feita provisão para que Deus deva possuir toda nossa alma, e ser o objeto de nosso exclusivo respeito. Se tivéssemos nossa dependência parcialmente em Deus, e parcialmente em outra coisa qualquer, o respeito do homem seria dividido entre estas diferentes coisas das quais depende. Assim seria se dependêssemos de Deus apenas para uma parte de nosso bem, e em nós mesmos, ou em outro ser, para a outra parte; ou se tivéssemos nosso bem apenas de Deus, e através de outro que não fosse Deus, e em alguma outra coisa distinta de ambos, nossos corações estariam divididos entre o bem em si, e aquele de quem, e através de quem, nós o recebemos. Mas agora, não há mais ocasião para isto, Deus sendo não apenas aquele de quem temos todo bem, mas também através de quem o recebemos; sendo ele o próprio bem. De modo que, o que quer que haja para atrair nosso respeito, a tendência ainda é direcionar tudo para Deus; tudo une-se nele como o centro.
APLICAÇÃO
1. Podemos observar aqui a maravilhosa sabedoria de Deus, na obra da redenção. Deus fez a nulidade e miséria humana, seu estado rebaixado, perdido e arruinado, no qual se afundou pela queda, uma ocasião para a maior promoção de sua própria glória para que, como das outras maneiras, e em particular nesta, haja agora muito mais dependência total e evidente do homem em Deus. Embora Deus se agrade em levantar o homem deste sombrio abismo de pecado e miséria no qual caiu, e grandemente o exalte em excelência e honra, a um alto grau de glória e benção, contudo, a criatura de modo algum tem algo de que se gloriar; toda a glória, evidentemente, pertence a Deus, tudo se encontra em mera e muito absoluta e divina dependência do Pai, Filho e Espírito Santo. E cada pessoa da Trindade é igualmente glorificada nesta obra: há uma dependência absoluta da criatura em todas para tudo: tudo é do Pai, através do Filho e no Espírito Santo. Assim, Deus aparece na obra da redenção como tudo em todos. É adequado que seja assim, e que ninguém mais seja o Alfa e Ômega, o primeiro e o último, o tudo e único, nesta obra.
2. Daí as doutrinas e esquemas de divindade que se encontram em qualquer aspecto opostos a tal dependência absoluta e universal de Deus, derrogam a sua glória, e frustram o projeto de nossa redenção. E são esses esquemas que colocam a criatura no lugar de Deus, em quaisquer dos aspectos mencionados, que exaltam o homem no lugar do Pai, do Filho ou do Espírito Santo, em qualquer coisa a respeito da nossa redenção. Ainda que possam permitir que haja uma dependência dos redimidos em Deus, negam, contudo, uma dependência que seja tão absoluta e universal.
Concordam que haja uma inteira dependência de Deus para algumas coisas, mas não para outras; concordam que dependemos de Deus para a dádiva e aceitação de um Redentor, mas negam tão absoluta dependência dele para a obtenção de um interesse no Redentor. Concordam com uma absoluta dependência do Pai para dar seu Filho, e do Filho na obra da redenção, mas não tão inteira dependência do Espírito Santo para a conversão, e um estar em Cristo, e assim ser habilitado para os seus benefícios. Concordam com uma dependência de Deus para os meios de graça, mas não absolutamente para o benefício e sucesso desses meios; uma dependência parcial do poder de Deus, para obter e exercitar a santidade, mas não a mera dependência da livre e soberana graça de Deus. Concordam com uma dependência da graça de Deus para uma recepção em seu favor, tanto que ela é sem qualquer mérito próprio, mas não como se não fossem atraídos, ou movidos sem qualquer excelência. Concordam com uma dependência parcial de Cristo, como aquele através de quem temos vida, como quem adquiriu novas condições de vida, mas ainda sustentam que a justiça através da qual temos a vida é inerente a nós mesmos, como foi sob a primeira aliança. Agora, qualquer esquema que seja incompatível com a nossa inteira dependência de Deus para tudo, e de termos tudo dele, por ele e nele, é repugnante para o desígnio e substância do evangelho, e priva-o do que Deus reputa como o seu brilho e glória.
3. Daí, podemos aprender uma razão por que a fé é o meio pelo qual chegamos a ter um interesse nesta redenção, pois está incluído na natureza da fé um sensível reconhecimento da absoluta dependência de Deus neste caso. É muito adequado que seja exigido de todos, para que tenham o benefício desta redenção, que devam ser sensíveis disso, e reconhecer sua dependência de Deus para ela. É por este meio que Deus planejou glorificar-se a si mesmo na redenção; e é justo que ele deva pelo menos receber essa glória daqueles
que são os objetos dela, e que recebem seus benefícios. A fé é um senso
do que é real na obra da redenção, e a alma que crê depende inteiramente de Deus para toda a salvação, em seu sentido próprio e ação. A fé rebaixa os homens, e exalta a Deus, pois dá toda a glória da redenção somente a Ele. É necessário para a fé salvadora que o homem seja esvaziado de si mesmo, esteja sensível que ele é “um desgraçado, miserável, pobre, cego e nu.” A humildade é um grande ingrediente da verdadeira fé: aquele que verdadeiramente recebe a redenção, recebe-a como uma criança pequena: “Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele.” É o deleite de uma alma piedosa humilhar-se e exaltar somente a Deus. A sua linguagem é: “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória.”
4. Sejamos exortados a exaltar a Deus somente, e atribuir a ele toda a glória da redenção. Esforcemo-nos para obter e aumentar o nosso senso da grande dependência que temos de Deus, ter o nosso olhar somente nele, a mortificar a disposição para a autossuficiência e justiça própria. O homem é por natureza grandemente propenso a exaltar-se, e depender de seu próprio poder ou bondade; como se, de si mesmo, ele devesse esperar a felicidade. Ele é propenso a ter respeito pelos prazeres estranhos a Deus e seu Espírito, como se neles a felicidade pudesse ser alcançada.
Mas esta doutrina deve nos ensinar a exaltar somente a Deus: e, pela confiança e dependência, louvá-lo. Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor. Alguém tem alguma esperança de ser convertido, e santificado, e de que sua mente é dotada de verdadeira excelência e beleza espiritual? Que seus pecados estão perdoados, e que recebeu o favor de Deus, e foi exaltado para a honra e benção de ser seu filho, e herdeiro da vida eterna? Que ele dê a Deus toda a glória, que, sozinho, faz com que ele seja diferente do pior dos homens neste mundo, ou do mais miserável dos condenados no inferno. Acaso alguém tem muito conforto e forte esperança de vida eterna? Que a sua esperança não o exalte, mas o disponha para humilhar-se ainda mais, para refletir sobre a própria excessiva indignidade de tal favor, e exaltar somente a Deus. Acaso algum homem é eminente em santidade, e abundante em boas obras? Que ele não leve nada dessa glória para si mesmo, mas a atribua àquele cuja “obra somos, criados em Cristo Jesus para boas obras.”
 
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